top of page

Entre pães, flores e fé: a força de Elieth Hodas

  • Panetteria Palhano
  • há 3 dias
  • 5 min de leitura

(Matéria retirada do Jornal Folha de Londrina, edição de 10/05/2025)


Por trás do balcão da Panetteria Palhano está a história de uma mulher que fez da família, da fé e do trabalho os pilares de uma vida

Foto: Sérgio Ranalli
Foto: Sérgio Ranalli

Na simplicidade do dia a dia e na intensidade dos afetos, Elieth Hodas construiu uma vida pautada por valores que o tempo não apaga: a fé em Nossa Senhora Aparecida, o amor incondicional pela família, o gosto por estar junto à natureza e a coragem de quem nunca se acovardou diante das dificuldades. Aos 62 anos, ela é o coração pulsante de uma grande história de sucesso — não apenas da Panetteria Palhano, um dos negócios gastronômicos mais reconhecidos de Londrina, mas de uma trajetória marcada por raízes profundas, espírito batalhador e uma alegria contagiante.


Mãe, avó, esposa e empresária, Elieth é dessas mulheres que inspiram o tempo todo. Comanda com firmeza e carinho a rotina da padaria e da chácara onde cultiva flores e alimentos que saciam não só o corpo, mas também a alma. Sua fé, desde sempre, é alicerce. “Nossa Senhora Aparecida é tudo para mim”, diz com os olhos brilhando, refletindo a força que vem de dentro e sustenta todo o legado que construiu.


Uma mulher visionária

Foto: Sérgio Ranalli
Foto: Sérgio Ranalli

Como muitas histórias de empreendedorismo feminino, a trajetória profissional de Elieth não foi fácil. Enfrentou preconceitos, ouviu críticas, lidou com o peso de ser mulher em posições de liderança. Mas nunca perdeu a doçura nem a ousadia. Direta, prática e movida pela intuição e criatividade, ela é visionária. Não à toa criou um dos primeiros panetones salgados do Brasil — e muitas outras receitas que marcaram gerações.


Para ela, a frase “não vai dar certo” simplesmente não existe. Ousada, consegue visualizar os caminhos que levam ao pioneirismo. “Eu vejo, vou e faço. Eu gosto de estar inovando, inventando, eu não paro.”


A Panetteria Palhano é, hoje, um empreendimento familiar, onde todos têm um papel essencial. O filho, Antônio Carlos Hodas Junior, músico, cuida do marketing. A filha, Vanessa Hodas Casarin, comerciante de coração, está sempre atenta ao movimento dos clientes. O marido, Antônio Carlos Hodas, trabalha no setor financeiro da empresa. O genro, Flávio Júnior Casarin, está no administrativo. E os quatro netos circulam entre os balcões, dando mostras de pertencimento e amor. “Minha família é tudo para mim”, afirma sem hesitar.


Em meio à rotina intensa, Elieth sonha com o que mais valoriza: tempo com os seus. “Queria mesmo era fazer uma viagem com todos juntos. Só nós, em paz, longe do trabalho”, confidencia. Mas sabe que, por ora, a dedicação à padaria fala mais alto — a não ser que, como ela brinca, “a gente feche tudo por uns dias”.


Na chácara, entre plantas e flores que cuida com carinho, encontra refúgio. Ali, com a terra entre os dedos, escutando música e cercada de verde, Elieth celebra a vida com simplicidade e gratidão. Samba, rock ou MPB, o importante é que a trilha sonora acompanhe o ritmo de quem nunca parou de sonhar.


É na chácara que ela planta e colhe diversos produtos utilizados na padaria, como a mandioca que vira recheio de coxinhas e ingrediente dos pães. “Eu amo mexer com a terra, é algo que me faz muito bem”, garante.


O senso de independência surgiu cedo, aos 17 anos, quando se casou e foi morar com o marido em Minas Gerais. Antônio Carlos era bancário, profissão que exigia viagens frequentes. Foi durante os cinco anos longe de Londrina que Elieth aprendeu a administrar a casa, os filhos pequenos e tudo mais que viesse pela frente.


O outro lado do sucesso

No auge do sucesso, entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, Elieth já aparecia em jornais e noticiários por suas inovações na padaria. Mesmo com o carisma, o sorriso cativante e a irreverência, um problema sério e silencioso crescia em sua vida: a síndrome do pânico.


Sem diagnóstico nem tratamento adequados, conviveu por mais de 15 anos com crises cada vez mais frequentes e incapacitantes. A virada aconteceu quando foi maltratada por um cliente e resolveu desabafar no antigo Orkut. No relato, falou das ofensas recebidas e do sofrimento de viver com um problema de saúde ainda pouco conhecido. A repercussão foi grande. Na época, a síndrome do pânico mal era debatida publicamente.

Foi a partir daí que ela iniciou um tratamento eficaz, que teve início com o desmame de todas as medicações que tomava.


“Eu deixei de dirigir, eu não ia no cinema, eu não ia no mercado, eu não conseguia entrar num carro e ir até Rolândia ver a minha família”, conta. Ela descreve os momentos de crise como uma tempestade interna: suor frio e quente ao mesmo tempo, batimentos acelerados, tontura, dor de estômago e falta de ar — tudo junto e sem aviso prévio.


Um negócio de vida

Há 30 anos, Elieth deu o primeiro passo rumo ao sucesso nos negócios. Na Avenida Inglaterra, abriu a Coffee House, inicialmente planejada para vender comidas congeladas e doces para festas junto com uma amiga. A parceria não durou por questões familiares da sócia. Como o ponto era uma padaria, Elieth decidiu seguir aquele rumo — talvez fosse acaso, talvez fosse destino, mas o manto de Nossa Senhora Aparecida já a acompanhava ali.

Sem experiência, mergulhou no aprendizado. Com apenas três funcionários, a Coffee House foi pioneira em Londrina ao lançar baguetes recheadas com sabores como presunto e queijo, carne seca, torresmo, frango e calabresa — um sucesso que logo estampou jornais.

“Tudo aquilo que me irritava nos lugares em que eu ia, eu tirei da minha (padaria)”, explica. Um exemplo foi a decisão de colocar o caixa na porta da loja: “A pessoa que corta os frios e que embala o pão não pode ser a mesma que recebe o pagamento.” Para Elieth, limpeza e higiene são valores inegociáveis.


Outra inovação foi posicionar os pães no centro da loja, em uma ilha acessível e visível, invertendo a lógica tradicional. Além disso, introduziu produtos inéditos à época, como pães de batata, de mandioca e o próprio panetone salgado, rompendo com o sabor doce tradicional.


Com o crescimento, em apenas quatro anos passou de três para vinte funcionários. Era hora de expandir. A mudança para a Avenida Maringá, em 1999, marcou a nova fase, sob o nome Famiglia Millane, onde permaneceu por 11 anos. Encerrar essa etapa e vender o ponto foi uma forma de encerrar também uma sociedade.


Paixão pelo comércio e pela gastronomia

Apaixonada pela panificação, Elieth migrou para a região da Gleba Palhano e, ali, nasceu oficialmente a Panetteria Palhano. O primeiro endereço foi na Rua Ernani Lacerda de Athayde, onde permaneceu por quase uma década. Em 2019, a nova e moderna unidade ganhou forma na Avenida Ayrton Senna, em um espaço de mais de 930 m², com uma equipe de 70 colaboradores.


Em meio a inúmeras padarias espalhadas pela cidade, Elieth afirma que o diferencial da Panetteria está no sabor caseiro e artesanal dos produtos.


Nenhum aditivo químico ou conservante passa pelas portas da padaria. “É igual ao pão que a sua mãe ou sua avó faz”, garante. O tradicional pão francês, por exemplo, começa a ser preparado antes das 2h da manhã para chegar fresco todos os dias.

Muitos dos produtos que fazem sucesso hoje surgiram da escuta atenta aos clientes. Histórias de infância, memórias afetivas e receitas de família ganham vida na Panetteria. Quando aprovados, os produtos recebem o nome de quem compartilhou essa memória.


Com orgulho, Elieth conta sobre a rosca Albertina — massa doce e trançada, coberta por uma fina camada de açúcar — que homenageia a mãe de um jornalista de Londrina. “Temos diversas histórias de pessoas que se emocionaram ao provar por conta das memórias”, lembra. São ao menos quatro fornadas diárias da rosca. Outras criações queridas do público são: a rosquinha da dona Nair, o pão de azeitonas da Meg e o pudim de Santa Anita. “Esse é o meu diferencial”, afirma.


matéria de: Jessica Sabbadini - Especial para a Folha (clique aqui)



Comments


bottom of page